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PARTE 2: Entrevista Inédita: “Luiz Carlos Prestes relembra o Levante de Santo Ângelo e a participação de Tenente Portela“

Publicada em 22/10/24 às 16:22h - 15 visualizações

Jornal Província


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PARTE 2: Entrevista Inédita: “Luiz Carlos Prestes relembra o Levante de Santo Ângelo e a participação de Tenente Portela“
 (Foto: Reprodução)

P.M. ( ANTÔNIO PINHEIRO MACHADO NETO) - E a resistência que eles iam adquirindo.

L.C.P.- Mas 60 quilômetros é muita coisa!!!

J.F. - É uma marcha!

L.C.P.- Eu fixaria esta etapa na beira do São Francisco com lama as vezes até o joelho. Os animais, os burros cargueiros, teve que se matar alguns deles dentro da lama porque não saia mais da lama. O rio tinha enchido. Tinha sido uma cheia excepcional. O Rio São Francisco ficou 30km de largura. Todo o vale ficou ocupado e não podia sair dali porque a direita era caatinga dali só tinha espinho e não tinha nem água. Lá em cima não tinha água. Então tivemos que cair num desfiladeiro de 1.200 km. Só depois de 1.200 km tinha um caminho para dentro. Fizemos estes 1200 km em 22 dias dá uma média.

As formações eram todas falhas muito falhas, e os inimigos com os navios do Rio São Francisco com eles. Então eles desembarcaram na nossa frente nós tínhamos que rodear a eles e depois seguíamos a viagem. Fizemos 1200 km ali.

F.R.L. - Capitão fala-se muito assim no respeito que os soldados na devoção que tinham pelo senhor que muitos até pelo espírito de liderança que o senhor sempre despertou deixavam meio de lado a ideologia e acompanhavam a marcha pelo seu carisma?

L.C.P.- É. Aquilo ali era os soldados depois que chegaram em Mato Grosso já os soldados tinham orgulho da coluna ( risos). Era interessante porque nós vencemos muitas resistências.

Primeiro tivemos que atravessar o rio Paraná e entrar no Paraguai armados porque nós não quisemos entregar as armas. Tivemos que discutir com o Tenente aquele, porque tinha um tenente paraguaio que não queria deixar. Nós tivemos que atuar, usar habilidade. Escrevemos uma carta explicando a ele porque que nós precisávamos entrar armados. Então citávamos um episódio aqui no RGS na Revolução no movimento de 23 que uma tropa recuou, entrou no Uruguai e a polícia do Borges entrou atrás e matou gente, enforcou gente no Uruguai.

J.F.- Existia a barreira diplomática na época?

L.C.P.- Não, não havia nada. Então nós não tinha força para defender a nossa vida nós dizíamos. Então nós tinha que passar. E a carta foi entregue porque nós esperamos que chegasse um navio paraguaio que fazia viagem de Porto Adela em frente a Porto Mendes onde nós estávamos até Buenos Aires. Este navio nós estávamos esperando que ele chegasse. Tínhamos informações que ele ia chegar então ia nos ajudar a travessia porque nós tínhamos um barco à lancha. Era uma lancha Assis Brasil era o título mas era pequena.

Dava pouca gente podia atravessar e quando chegou este navio o pessoal nosso foi na lancha Assis Brasil fez a abordagem para o outro e aí o tenente e estava no navio. O João Alberto é que foi encarregado de entregar a carta a ele. E ele disse que não podia ceder. É uma questão da honra pessoal dele não permitia que ele cedesse que entrássemos armados no Paraguai. Aí o João Alberto teve que dizer. Olha o senhor é militar e nós somos também. Vamos conversar como militares. O senhor compreende. Nós não íamos lhe

fazer esta proposta sem já ter desembarcado tropas lá no norte até o sul.

De qualquer maneira nós já estamos no Paraguai. Pra que brigar, pra que morrer.

L.C.P.- O Tenente Anibal Benévole que era um homem que eu admirava muito – que era um homem de grande valor, intelectual e morreu em combate atacando em Itaqui.

Eu mandei um código telegráfico no dia 20 de outubro ao dia 31. E mandava dizer a ele que se não viesse nenhum telegrama até esta data eu vou me levantar sozinho aqui em Santo Ângelo, eu com o Portelinha.

J.F. - O Portelinha seria um dos homens mão direita para levantar esta luta no Rio Grande?

L.C.P.- - Era o meu braço direito. O único ponto de apoio seguro que eu tinha era ele.

J.F. - Como era a situação do Portelinha que aquele momento ele estava como desertor?

L.C.P.- Não, ele estava escondido.

J.F. - Não houve procura? Era um clima de terror?

L.C.P.- - Nem tanto assim, mas o comandante queria prendê-lo, mas ele não podia nós estávamos bem seguros.

Então os tenentes vacilaramEu disse a eles “vocês não querem eu não vou obrigar, eu não quero obrigar ninguém. Eu vou levantar o batalhão e vocês fingem que não sabem de nada. Eu me considero preso lá na sala do 198

comandante e no dia seguinte dou um automóvel para vocês irem embora para a Argentina.” Foi à combinação que eu fiz com eles e eles concordaram. E às 9 horas da noite você que é mais antigo vai receber um telegrama do comandante da região dizendo Passe o comando para o Capitão Prestes e você com este telegrama me passa o comando.

J.F.- Uma operação até certo ponto disciplinada?

L.C.P.- Com um grupo de paisanos eu assaltei a casa do comandante logo que escureceu. Começou a escurecer o comandante morava numa casa, numa esquina. Eu tinha o “Pedro Bins” um curandeiro aqui de Santo Ângelo que era um homem de muita firmeza. Gostava dele pela firmeza dele. Era baixinho, mirrado.

Então ele que foi encarregado de bater a porta da casa do comandante e dizer a ele que ele estava preso em casa. Imagina ele comandante da guarda preso em casa (risos). De maneira que eu fiquei de longe uns 400 metros, 500 metros de distância com os meus homens. Principalmente o Pedro Bins que era um homem de valor. Então ele bateu. O comandante veio e eu vi começou a discussão, o comandante já estava dizendo já que ia fazer escândalo. Que estória é está? Eu disse ao Bins – Vai e acaba com aquilo lá. – Ele deu uma corrida, deu um empurrão no comandante que ele quase caiu lá dentro de casa. Tirou o lenço vermelho do bolso cheio de lenço vermelho. (risos).

Sentou no sofá lá da casa dele e os outros companheiros já assaltaram a casa por trás, pegaram a empregada, botaram no sofá junto dele e pronto. Fecharam a casa e esperaram o automóvel do batalhão que às 8 horas ia lá pegar o comandante que ele ia dormir no quartel. De maneira que quando chegou o automóvel foi só botar o revólver na cara do motorista e mandou pra 3 km para fora de Santo Ângelo até 2ª ordem. O que é essencial é que major manda mais que capitão e eu era capitão. Ele era major. Se houvesse qualquer coisa frente aos soldados, os soldados iam ficar com o major do que comigo, quanto a isto eu não tinha ilusão.

J.F.- Agora aí entra o Portela?

L.C.P.- E depois que acabou esse quadro todo. Eu fui procurar o Portela cheguei lá e disse: Pronto está tudo acabado. Ah – matou o comandante? Não, não foi necessário (risos). Ele era muito sentimental, o Portela. Ele ficou horrorizado que eu tivesse matado o comandante. Não, não foi necessário. Agora eu vou lá para o hotel que às 9 horas chega o tal telegrama. Eu quero estar lá, já fardado.

Quando chegou o telegrama do general entrei no quartel com os dois tenentes e o Portelinha entrou também junto conosco e foi logo para os alojamentos, que ele tinha muito prestígio entre os soldados. Então foi logo para os alojamentos, pois os soldados estavam lá. Estavam respondendo a revista e foi levantar os soldados dizendo que era a Revolução. Enquanto isto eu estava com os sargentos lá. E os tenentes então disseram: O que é isto? Isto é a Revolução mesmo e vocês tão preso aí. No dia seguinte dei um automóvel a eles e eles foram embora. Mas quando passavam em Santa Rosa os prefeitos disseram. Não, não. Aqui não podem passar sem a ordem do Doutor Borges (risos).

Veio ordem do comando para que eles dessem instrução aos provisórios do Borges lá de Santa Rosa e devem ter participado depois da luta contra nós.

J.F. - Quantos homens tinha o quartel de Santa Rosa naquela época?

L.C.P.- . - Tinha pouca gente. Uns trezentos homens. Não mais do que isto e num péssimo armamento. Não tínhamos quase armamento. Dei armamento a alguns grupos civis e logo em seguida no dia seguinte nós fomos apoiados pelo comércio da cidade. Eles gostavam muito de nós. Eu fiz caminhões e caminhões de víveres, latas de 200

banha, sacos de feijão, arroz. Mandava tudo lá pra São Luís porque Santo Ângelo era ponta de trilho.

Podia chegar um reforço do exército a qualquer momento. Fiquei ali uns 3 dias em Santo Ângelo e eu mesmo fui embora e abandonei Santo Ângelo. Deixamos uma guarda lá no Ijuizinho. No Rio Ijuizinho. Fui embora. Para onde? São Luís Gonzaga.

J.F. - Não tinha trem naquela época?

L.C.P.- Portela foi o meu braço direito. Eu mandei ele na frente com a 1 tropa que foi lá para Luís Gonzaga. Chegando lá ele me mandou um relatório.

O levante de S. Luís foi feito pelo Tenente Gay. Tenente João Pedro Gay. Este Tenente apoiou-se nos sargentos fazendo demagogia. Prometendo tudo para os sargentos. Daí que os víveres que eu mandava entravam por uma porta e saiam por outra pra casa dos soldados e sargentos.

O Portela ficou horrorizado.( risos) E me mandou um relatório dizendo isto aqui está uma roubalheira horrível. Uma coisa incrível. Mas ele tinha dificuldade, ele era Tenente como o Gay, não tinha autoridade hierárquica. Estava esperando que eu chegasse.

J.F.- Você não lembra a data disto? Em que período foi isto exatamente?

L.C.P.- Foi logo depois de 29 de outubro. Eu fiquei lá até 02 de novembro eu fiquei uns 3 dias em Santo Ângelo. Depois do levante fiquei ainda uns 3 dias e depois fui embora. – Eu e o Portelinha.

J.F. - Contornou a situação que Portela tinha rematado?

L.C.P.- Depois eu mandei o batalhão porque houve o levante de São Borja. – Os tenentes do 2º regimento de Cavalaria. Chegou lá o Siqueira Campos que ajudou a levantar o Batalhão.

P.M. - Estava a onde Siqueira Campos?

L.C.P.- Ele estava em Buenos Aires. Desde 22 ele tinha ido pra lá. Ele tinha saído. Ele veio ali e foi atacar - Itaqui e aí morreu quando veio em socorro de provisórios de Santiago e atacaram a ele pelas costas quando ele estava atacando Itaqui. E aí o Benévole levou um tiro na cabeça e o Portela teve que atravessar o Rio Uruguai e passar para a Argentina com o resto da tropa.

Tinha uma Companhia nossa do Batalhão Ferroviário porque o Regimento de Cavalaria de São Borjão tenente comandante lá botou um automóvel com letras douradas na frente – Comandante da Praça, etc, e não queria mandar nenhum socorro para São Borja. O Batalhão Ferroviário que veio de automóvel lá de São Luís eu mandei uma Companhia na frente e que ainda chegou a Itaqui para ajudar o Portela e o Benévole que estavam lá além do regimento.

Eu fui com outra Companhia. Fui para lá. Cheguei até São Borja, mas aí já tinham sido derrotados. Já tinham atravessado o Rio Uruguai e estavam na Argentina e passaram para a Argentina.

A 2ª Companhia eu salvei e me lembro até o contato com ele, ele só falava dele mesmo. Eu disse: eu não quero saber da sua doença, estava dizendo que estava doente, que estava doente. Eu quero saber qual é a situação da praça. Eu fiquei em São Borja sem nenhuma garantia porque a tropa que tinha atacado Itaqui ia voltar imediatamente para São Borja. Foi neste momento que João Francisco apareceu em São Tomé em frente e queria vir a São Borja e eu mandei dizer a ele que não viesse que eu não podia garantir nem a vida deles mas ele veio o nomeei então coronel das tropas do noroeste do Estado. Formar aí uma divisão. Divisão do centro, não sei mais o que é, eu nem lembro direito o nome que ele deu.

Então eu com o Portelinha é que começamos aí (...) Daí ele fez a Argentina através de São Nicolau ele voltou ao Brasil.

J.F. – Saiu por São Borja e veio por dentro?

L.C.P.- É ele veio pela Argentina.

J.F. – Mas ele estava acompanhado de outros soldados?

L.C.P.- Os soldados que ele trouxe também conosco. E aí ele foi meu braço direito na organização da tropa na distribuição de armamento. Esta coisa toda. Até que nós saímos do sítio por que depois fomos atacados. Nós tínhamos 1500 homens.

Eu só pude dar uma arma longa para 700 homens os outros usavam revólveres, pistolas e não tinham quase munição. Eu esperava que de Paraná Izidoro pudesse nos mandar. Ele chegou a comprar os guardas da aduaneira dos Argentinos mas quando chegou na hora de passar o armamento os guardas não deixaram. Então eu esperei ali até dezembro. Fiquei uns 2 meses na zona Missioneira. Abarcava desde São Borja a esquerda deixava Santiago do Boqueirão e eu dividi toda a minha coluna cobrindo as diversas estradas que acorriam para aquela região. O governo atacou com 14 mil homens – 7 colunas cada uma delas era mais forte que a minha.

A mais importante era comandada pelo Claudino Nunes Pereira que era o comandante da Força Pública do Rio Grande e que avançou pelo divisor de águas de Tupanceretã em direção a São Miguel e São Luís.

P.M.- Existe esta estrada até hoje?

L.C.P.- É existe liga Tupanciretã a Santo Ângelo. Então as minhas guardas eu ia retirando par em passo à medida que eles avançavam. Eu vi que eles iam fazendo uma marcha lenta e harmônica para fazer o sítio de São Luís. Eles consideravam que São Luís era a minha capital e era realmente o meu curso de comando São Luís.

Então quando eu vi que eles faziam isto eu disse vamos deixar eles chegarem bem perto, quando eles chegarem a 60km de São Luís aí recolhi todas as minhas guardas em São Miguel onde tem aquelas Ruínas de São Miguel. E ao anoitecer a Coluna tomou a direção de Ijuí, de Santo Ângelo e Ijuizinho e passou entre duas colunas deles sem que esmorecessem. Foi a nossa manobra e que nos salvou.

Eu era muito jovem nesta época tinha cara de menino tinha uma porção de chefes que eram homens que tinham lutado em 93 ainda.

J.F.- Que idade o senhor tinha?

L.C.P.- Tinha 26 anos comandando esses 1500 homens. Então estes chefes não me respeitavam. Eu quando precisava que um deles fosse pra algum lugar eu tinha que ir lá comer churrasco, tomar chimarrão, conversar até eu induzir o cidadão que aquele lugar era perigoso. Quando ele me dizia que aquele lugar era perigoso eu dizia – Ah! Mas o senhor mesmo, só o senhor indo para lá. Então ele ia. Se eu desse ordem ele não ia.

J.F.- Então era uma ordem mais psicológica? Induzindo?

L.C.P.- É. Você vê a dificuldade de passar de oficial de carreira a guerrilheiro. É uma transição difícil compreende? Comete-se muitos erros.

A primeira ordem do dia que eu fiz no Batalhão Ferroviário – Comandante Tenente Portela, passou ao comando do batalhão. Regimento de Cavalaria botei João Alberto os tenentes de São Borja todos eles desertaram só sobrou um o Tenente Augusto Paiva que esse eu utilizei e ficou muito do Portelinha. Regimento de Cavalaria – Pedro Gay. E depois eu tinha uns 10 ou 11 grupos pequenos de quarenta homens, cinquenta. Não tinha mais do que isso. Então eu como oficial de Carreira botei esquadrão independente 1 esquadrão, 2 e 3. .

No dia seguinte todos estes velhos estavam de cara feia comigo. Cara feia por quê? Eu fui indagar de um cidadão. Aquele capitão que era sobrinho do Assis Brasil. Era comandante da Remonta do Exército lá perto de São Borja ele como era daquela região e aqueles coronéis eram dali eu disse: O que é que há? Há alguma coisa?

Tinha o Nestor Veríssimo irmão do Érico Veríssimo. Tinha o Silva de São Nicolau, Sezefredo. Tinha outros coronéis aí, homens que tinham lutado em 93.

Eu respeitava muito a eles etc. mas sabem porque eles estavam zangados?

É porque todos eles eram coronéis e você chamou a unidade deles de esquadrão. E eles estão zangados. (risos)

Mandei rasgar e fui ao 14 Regimento. A 1ª ordem do dia não valeu e tive que fazer outra. E assim se fez. E o Portela ficou comandando o Batalhão Ferroviário.

Depois retiramos. Fizemos esta marcha de retirada e foi o Portelinha quem conseguiu matar o Aragão Bozano.

Eles tinham tanta tropa que tinham deixado uma de reserva num arroio chamado Conceição depois do rio Ijuizinho. Esta marcha eu fiz marcha rápida e coloquei a tropa lá num vão do Ijuizinho que é muito profundo de maneira que ficou escondida a tropa e eu subindo na ladeira lá de cima via a Coluna do Claudir marchando lá para São Luís e nós marchando em sentido oposto.

J.F.- Eles iam para S. Luís e vocês iam para Santo Augusto?

L.C.P.- É nós íamos pelo outro lado e eles pensando que eu estava lá em São Luís.

De maneira que foi na noite de 27 para 28 e aí atravessamos no dia 28 de dezembro. Atravessamos no dia 29 o rio Ijuizinho de manhã atacamos o arroio Conceição onde estava a tropa do Aragão Bozano. Ele sido prefeito de Santa Maria Dr. Bozano. Ele era o homem que ia fazer a carreira do Aranha. Era um homem de prestígio no tempo do Borges. Ele não estava na tropa ele estava ainda em Ijuí quando houve o tiroteio. Ele veio de automóvel por aqueles picadões pois naquela época era zona mata- Ijuizinho. Tudo ali era mato. Ele veio de automóvel e Portelinha muito contribuiu.

Portelinha armado de fuzil metralhador com um pequeno pelotão de um pequeno grupo no picadão de Ijuí. Quando ele viu, o automóvel vinha. Via o pelotão que avançava o cavalo. Ele disse que nunca visto um automóvel numa estrada estreita virar da maneira que virou e escapou. (risos). Ele ainda deu uma rajada no automóvel com o fuzil, o motorista não foi ferido. Esmagou a cabeça do Aragão Bozano. Foi quando chegou a Ijuí e ele viu o Dr. Bozano estava morto.

J.F.- Mas foi o Portela mesmo que o assassinou?

L.C.P.- Sim! Ele mesmo atirava. A cavalo mesmo derrubou a nele. Ele a cavalo e o outro de automóvel. E quando morreu foi um escândalo.

Às dez da manhã o jornal do Borges de Medeiros a Federação que era vespertino davam sobre o sítio, o anel do ferro em torno de São Luís e nós já estávamos matando o Dr. Bozano a uns 200 km de São Luís. (risos). Então foi um escândalo. Um escândalo muito grande.

J.F.- E daí para Ramada?

L.C.P.- E daí para o norte, para a Ramada. Depois no dia 3 de janeiro atacamos a Ramada.

J.F.- E o final do ano, esta passagem de ano?

L.C.P.- Atravessamos Ijuí. Deixamos Ijuí de lado e tocamos pro norte. Paramos lá no Boqueirão da Ramada hoje Ajuricaba.206

No dia 3 às 8 horas da manhã os canhões deles falaram. Era aquele Lúcio Esteves o comandante da região. Ele juntou a tropa que foi possível que estava em Santo Ângelo e outros lugares e pretendeu nos barrar a passagem.

Eles compreendiam que nós íamos para o Paraná pra Santa Catarina. Então procuraram nos barrar. Foi um combate longo. Nós começamos às 8 da manhã e foi até 4 horas da tarde. Eles tinham 2 canhões e nós estávamos quase que tomando os canhões deles quando ele resolveu bater em retirada.

J.F.- Vocês tinham armamento pesado assim?

L.C.P.- Não, nós não tínhamos canhões. Eles tinham. Nós tínhamos somente fuzil Mauser e alguns fuzis metralhadoras muito ruins que era fuzil da Cavalaria que tinham um carregador meio curvo logo em seguida estragava. Um material muito ruim. A própria poeira da estrada liquidava. Boa arma é o fuzil metralhadora pesada. Esta é rústica, esta resiste a tudo. De maneira que nós não tinha nenhuma. Nós só temos metralhadoras depois que nós nos unimos aos paulistas; lá no Paraná é que nós ficamos com algumas metralhadoras deste estilo.

J.F.- Na Ramada Portela teve uma participação decisiva?

L.C.P.- .-Ele estava na vanguarda. Eu tinha jogado ele na vanguarda, mas ele conseguiu escapar e continuou marchando e abrindo caminho para a Colônia do Alto Uruguai – a chamada Colônia Militar do Alto Uruguai em Três Passos.

E travamos o combate aí para poder passar. Os soldados diziam que até que aquela artilharia eram salvas só porque foi no dia 3 de janeiro justamente no dia do meu aniversário.

J.F.- Mas foi o 1º combate que a Coluna fez mesmo?

L.C.P.- As seis da manhã bombardearam. O combate durou até às 4 horas da tarde. Perdemos uns trinta homens ali naquele combate principalmente a juventude de São Borja porque em São Borja houve uma traição muito grande do sobrinho do Assis Brasil. Traiu abertamente.

J.F.- Já neste momento tinha muita gente de fora, muitos simpatizantes?

L.C.P.- Ah, já tinha diversos grupos que haviam sido participantes da Rev.23. Demos armamento a eles. Agora aí a Coluna marcha toda. Atravessamos o Rio Pardo. E o Portela ficou comandando a retaguarda.

J.F.- Exatamente isto foi no dia 24, 25 de janeiro?

L.C.P.- Foi aí que ele foi surpreendido pela polícia gaúcha – a Brigada Militar sendo que pegou de surpresa e resistiram e morreram todos.

J.F.- Exatamente! Sobre este episódio existe muitas versões?

L.C.P.- Foi o 1º choque que eu tive na minha vida. Pra mim a perda de Portela era decisiva porque era o maior apoio que eu tinha. Era na Coluna a pessoa da minha maior confiança, era o meu substituto, o homem que eu tinha certeza que fazia tudo o que eu queria. E eu encontrei muito traidor neste período duro de ditadura.

A carta que eu escrevi ao Izidoro, que eu escrevi de Barracão depois que eu disse “ Os piores males foram dentro da própria Coluna do que lá de fora. Foram muito piores que o inimigo. A traição que houve, o pessoal. Os oficias de São Borja todos eles traíram.”

O tenente Gay quando nós entramos em Santa Catarina passamos o Rio Uruguai, entramos em informação que o Gay estava chamando os soldados para ir embora para a Argentina, pra levar armamento e tudo. Eu reuni a 208

oficialidade e desmascarei a Gay. Ali ele chorou, disse que era mentira, chorou, voltou a dizer que era mentira que estava sendo caluniado. E daí eu botei Siqueira Campos junto dele e mandei que ele continuasse comandando mas o Siqueira Campos junto dele. E dois dias depois o Siqueira me dizia que ele estava continuando conspirando. E eu mandei reunir a tropa lá na frente e desarmar o 3º regimento todo.

Mandei ordem a João Alberto para desarmar todos eles. Manter o tenente Gay preso e o que eu ia fazer era fuzilar. Fazer conselho de guerra e fuzilar. A soldadesca ficou indignada. A soldadesca dos 3 gaúchos desarmados para eles foi uma vergonha maior. Mandei desarmar todo mundo. Foram para a Argentina – Só o Gay, o João Alberto deixou ele fugir.

Sabia que ia mandar fuzilar mesmo. Então João Alberto deixou, era metido coração bom e tal. Mas eu ia submeter a Conselho de Guerra para fuzilar.

J.F.- Mas exatamente sobre a morte de Portela? Morreram todos ali?

L.C.P.- Morreu o Portelinha, morreu o Pedro Bins que era um homem de minha inteira confiança, era de Ijuí e foi quem me ajudou a prender o comandante. Quando eu mandei ele não vacilou chegou lá, deu um empurrão que o cidadão caiu deitado na beira da casa, botou o lenço vermelho na boca, sentou com violência depois eu mandei recolher, depois que eu estava dono da situação eu falei ao comandante que ia mandá-lo a São Luís. Mandei a São Luís e disse a ele que pedia desculpas. Você me desculpe mas não havia outra forma. Nós íamos discutir, enfrentar um ao outro, e nós dois ou eu matava você ou você matava a mim e ele disse que sabia que ia matá-lo no caminho pra São Luís. Eu disse pra ficar tranquilo. Você não vai ser assassinado porque lá você vai ser preso com todas as honras. Ele ficou preso na sala ao lado do comando de São Luís, mas ele lutava tremendamente contra os sentinelas que eu botava,

eu botava gente a paisana; Ele queria soldados do exército pra ver se fugia.

Depois de 15 dias eu dei a cidade como homenagem porque ela não tinha mais nenhuma importância. Ele foi viver com o vigário da cidade e sabe que ele suicidou-se depois.

Depois que nós saíamos de São Luís ele foi para Santo Ângelo tomou o trem. Foi a Cruz Alta. Aquele cidadão, aquele político de Cruz Alta, Tenente Paiva não sei ele o que ele disse pra ele que ele chegou na estação da estrada de ferro e deu um tiro na cabeça. Capaz de ter dito a ele qualquer coisa que ele ficou pirado.

J.F.- Eu lhe perguntava o seguinte. Existem uma série de informações contraditórias, o senhor já teria atravessado para Santa Catarina o Uruguai? Na Argentina?

L.C.P.- – Não, eu estava ainda no Rio Grande quando recebi a notícia. Ainda no Rio Grande. Eu sabia que a retaguarda tinha sido atacada e que todos eles tinham morrido.

J.F.- Isto foi na barra do rio Pardo. No município de Palmitinho?

L.C.P.- .- Toda a coluna passou por ali.

J.F.- Passaram de manhã ou o dia todo?

L.C.P.- .- Não, dois dias antes.

J.F.- Dois dias antes?

L.C.P.- - Três dias de passagem do Rio.

J.F.- E eles ficaram?

L.C.P.- É ele ficou defendendo a retaguarda.

J.F.- Ele e uns vinte homens?

L.C.P.- É talvez não chegasse a uns vinte. Estava 210

os filhos daquele velho o Taquarimbó de Ijuí. Seus filhos. Morreu Pinto, o Major Pinto, era um dos filhos dele. Morreu ali Pedro Lins, Major Pinto, Augusto Paiva do 2º Regimento de Cavalaria. Morreu ali também.

J.F.- Tudo aí?

L.C.P.- Sim, estes eu tenho certeza que morreram ali e além de soldados e pessoal.

Eram ao todo uns quinze ou vinte homens. Estavam fazendo a retaguarda sob o comando de Portela.

J.F..- Mas o senhor não chegou a voltar?

L.C.P.- Não, eu mandei até indo pelo Rio Uruguai, subindo o rio Paraná, ainda me levaram abotoaduras de um dos companheiros que morreram ali também . É a única coisa que sobrou, que eles conseguiram pegar.

Não encontraram mais nadaParece que a polícia o que pode recolher, recolheu – A Força Pública. O pessoal da força pública do Rio Grande do Alto Uruguai.

Pra mim foi um choque muito violento. Foi o 1º choque mais duro porque era um amigo mesmo. Tinha grande amizade pelo Portelinha ele era uma pessoa da minha inteira confiança pois não se faz um amigo assim e não se perde assim.

Mas aquele foi o 1º choque pra mim, foi muito duro.

J.F.- O Portela nunca chegou de ser casado?

L.C.P.- Não, era solteiro. Ele tinha umas tendências espíritas, espiritismo: Tinha muitas ideias espíritas. Eu fazia troça um pouco. Mas ele levava a sério.

J.F.- Tinha alguma preferência por música, cultura?

L.C.P.- Não, ele era um jovem como se diz empreendedor. Tomou sempre muitas iniciativas. Tomava  iniciativas. Este Monumento da Laguna por exemplo foi iniciativa principalmente dele.

Conseguiu construir o monumento e foi inaugurado ainda por ele mesmo. Ele era ainda aluno da escola Militar quando inauguraram este monumento. O Monumento aos Heróis de Laguna.

Agora eu não posso dizer a vocês nem data de nascimento.

J.F.- Isto a gente tem.

L.C.P.- Isto vocês sabem. Podem procurar o irmão dele.

J.F.- Isto a gente tem.

F.R.L.- Você teve algum contato com a família após a morte?

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