Há um local no Litoral Norte gaúcho que parece ter saído das histórias em quadrinhos, ou dos insuspeitos desenhos animados que a geração hoje adulta adorava assistir na infância, e que, por isso, permanecem na memória afetiva de muitos. O balneário Albatroz, ao norte de Imbé, homenageia, em muitos de seus logradouros, personagens clássicos das animações, como Mickey, Pernalonga, Pinóquio, Peter Pan, Tio Patinhas, Donald, seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho, Professor Pardal, entre outros, eternizados em placas ao longo das esquinas.
Sendo ou não a causa original destas nomeações uma grande incógnita, certo é que os moradores não se sentem perturbados, e até se divertem com tais referências. Bucólico, Albatroz, cujo nome sabe-se ser inspirado no pássaro homônimo, é um dos vários balneários que foram loteados por volta da década de 1960, quando a área do município ainda pertencia a Osório. Muitas destas histórias do início da colonização do local se perderam sem ter sido preservadas, portanto o que se sabe hoje são apenas excertos de algo notavelmente obscuro.
“Eu mesmo não sei o motivo. Acredito que quem more aqui há mais tempo realmente saiba”, comenta a comerciante Katia Rodrigues e Castro, que tem um mercado há 11 anos na Avenida Albatroz, uma das poucas que não leva nome de desenhos. Ela é natural de Sapiranga, no Vale do Sinos, assim como a vizinha Teresa Marli Kassner, que está há 24 anos na praia, mas ambas não se conheciam antes de se mudarem. “Tive alguns problemas respiratórios na cidade, então resolvi vir para cá, onde o ar é melhor”, observou Teresa.
Portanto, no mínimo, as nomenclaturas das ruas são mais antigas do que duas décadas atrás, e um dos poucos que arriscam a resposta é o reciclador Solismar Pereira Marques, natural de Aceguá, na Campanha, e que, em março, completará 50 anos em Imbé. Proprietário também de um brechó em rua avenida próxima, “Castelhano”, como é conhecido, relata ser, de fato, um dos primeiros habitantes da área, onde vive hoje com sua esposa, a aposentada Edite da Silva Marques, e duas filhas dos três que o casal tem. Solismar atribui a façanha a algum colonizador apaixonado por histórias em quadrinhos.
“O pessoal inventou de colocar estes nomes talvez por iniciativa do prefeito João Carlos Wender”, sugere ele, citando o primeiro ex-chefe do Executivo de Imbé, que governou entre 1988 e 1992, enquanto segura um antigo mapa convidando a morar no município com bairros planejados. O chefe do Cadastro Imobiliário da Prefeitura, Roni Santos, após pesquisa aos arquivos do município, explicou que, na realidade, quando o balneário foi loteado, as ruas a partir do mar em direção à serra eram todas com letras, de A a Z.
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“Só que teve um morador da rua M que, acredito, não simpatizou com esse nome e colocou uma placa escrito Mickey, de forma espontânea. Não foi algo oficializado. Só que os outros moradores viram aquilo e, a rua de cima, que era N, virou Margarida, a L, Ludwig, e aí começaram as demais. Meio que pegou a moda. E de 2019 para 2020, o município fez uma lei para regulamentar estes nomes junto ao Registro de Imóveis, porque ninguém mais chamava a rua M assim”, conta ele.
Outros balneários de Imbé também têm nomes curiosos, estes menos casuais: em Presidente, por exemplo, as ruas têm nomes de presidentes do Brasil e Estados Unidos: Café Filho, Itamar Franco, Roosevelt, Truman, Kennedy, entre outros. Aqui, a iniciativa foi dos primeiros loteadores do local, Victor Maia Ganem e François Nehme. O mesmo ocorreu em parte de Mariluz, chamado Plano C, onde as ruas têm nomes de pescados da região, como Curvínia, Lambari, Siri, Anchova, Linguado, Sardinha e Camarão, estes, também iniciativas do loteador local, Omar Moreira Luz, conforme explicou Santos.