O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que tem mais municípios com apenas um candidato a prefeito. Esse cenário ocorre em 43 cidades gaúchas e a população reage de diferentes formas à limitação de opções: alguns estão satisfeitos, outros preferiam ter alternativas.

Se tem uma época que Harmonia faz jus ao nome, é no período eleitoral. A cidade de 5,3 mil habitantes no Vale do Caí, a 80 km de Porto Alegre, é uma das que só tem um candidato a prefeito.

“Na saúde, está bom. Está tudo bem”, afirma um morador.

“Eu acho importante ter sempre uma oposição, para ter a concorrência”, comenta uma moradora.

Em Rondinha, cidade de 5 mil moradores no Norte do estado, a situação é a mesma.

“Precisaria mais, para ter mais opções para voto”, diz um marceneiro que vive no município.

“Se não tem, vamos apoiar esse aí”, fala uma agricultora.

Tanto Harmonia quanto Rondinha vão para a segunda eleição seguida com apenas um candidato. Além desses municípios, Engenho Velho também repete o pleito de opção única.

 O QUE DIZ A LEI

A legislação prevê que o candidato precisa receber pelo menos um voto para ser eleito. Mesmo que muitos eleitores votem em branco ou anulem, é quase impossível que o postulante não se eleja.

O secretário judiciário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do RS, Rogério de Vargas, resume: basta que o candidato vote em si mesmo.

“É uma situação um pouco usual, mas, se todos os demais votos forem anulados ou se forem em branco, o único voto dele mesmo faz com que ele ganhe a eleição”, explica.

O cientista político Augusto Neftali de Oliveira, da PUCRS, afirma que o eleitor perde a capacidade de fazer opções e que uma cidade com apenas um candidato “perde na questão do debate”.

“Sempre é conveniente que o eleitor tenha várias quantidades para poder fazer uma opção informada. Claro, se é uma situação momentânea, acontece numa eleição, não há um grande prejuízo democrático, mas é uma situação que merece ter atenção”, analisa.

Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, as dificuldades de uma corrida eleitoral desestimulam os candidatos.

“Quando avaliamos todos esses dados juntos, pensamos na hipótese mais provável de que os desafios crescentes desestimulam as pessoas a entrarem na disputa eleitoral, especialmente para a vaga de prefeito. E não falo apenas da falta de recursos financeiros e de apoio técnico. As dificuldades incluem questões burocráticas e entraves jurídicos, que tornam a vida pública muito penosa na ponta”, analisa.

PP e MDB são os partidos que têm maior número de candidatos únicos no estado.

Com oito candidatos a prefeito, Porto Alegre é a cidade do RS com mais postulantes em disputa. Na sequência, aparecem Cachoeira do Sul e Santa Maria com sete candidatos cada.